Que a Alemanha tenha nos ensinado, com esse 7 a 1, algo mais do que apenas a indignação com a seleção brasileira.
O mundo possui mais de 190 países. Preferi informar neste
contexto para permanecer exato por mais tempo. Existem divergências diversas
entre os organismos e as datas de divulgação de suas contagens. Os curiosos podem
começar sua pesquisa pela Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_Estados_soberanos)
onde encontrarão referências diversas de organismos como a ISO e a ONU que
mantêm alguma forma de contagem dos Estados Soberanos, Territórios e dos casos
especiais como normalmente é tratado o Vaticano, entre outros aspectos de
classificação.
Para a FIFA, por exemplo, importam hoje apenas as 32 Federações
classificadas para a Copa do Mundo que se realiza a cada 4 anos, mas a entidade
relaciona 209 Federações de Futebol – como ela se autodenomina: é a ONU do
futebol. Quase todas as Federações – exatamente 203 – participaram das
eliminatórias de 816 jogos que classificaram os 31 países que participariam da
Copa do Brasil que como país sede estava previamente classificado. Muitos estão
pensando: ainda bem, senão...
Dentre os 209 destacam-se o Brasil como o único pentacampeão,
seguido da Itália com 4 títulos e Alemanha com 3 títulos. Abaixo vem a Argentina
e o Uruguai com dois títulos. Além destes, já conseguiram vencer uma copa do
mundo: França, Espanha e Inglaterra. Isso soa como música aos ouvidos dos
brasileiros que querem ser os melhores em tudo.
Mas, queremos mesmo ser os melhores em tudo? Vamos olhar para a
sociedade brasileira e suas conquistas.
1.
Governantes: Acredito que a imensa maioria dos
brasileiros vão concordar que nossos políticos priorizam a si mesmo e a
manutenção de seu poder acima de tudo, além de egoístas são extremamente
vaidosos;
2.
Empresários: A maioria das empresas no Brasil –
eu não disse brasileira, disse no Brasil – não querem correr riscos, isto é: só
apostam no lucro certo. Sendo assim são acanhados, tradicionalistas e não
ousam. É comum aos gestores no Brasil o desejo de sucesso e poder “pessoal”
antes mesmo dos resultados patrimoniais – uma ilha de vaidade e do mais puro
egoísmo e egocentrismo. Sei que existem muitas exceções que não me permitem
dizer que essa é a regra. Mas a maioria vai concordar que no Brasil a
responsabilidade social dos principais empresários é primeiro consigo mesmo,
depois se voltam para as suas famílias e nesta ordem de prioridades só então
vem a empresa, seus clientes, seus fornecedores, seus colaboradores, e bem lá
atrás virão o resto da sociedade e por razões distantes da responsabilidade
social.
3.
Profissionais: Espelham-se nos empresários.
Poucos são aguerridos e a competência, em seus diversos aspectos, são menos
privilegiadas do que o poder, o patrimônio e suas vantagens pessoais. Eu sei,
não somos todos assim, mas entre o capital e o profissionalismo é comum priorizar-se
o capital e acatar orientações que farão o produto um pouco pior só para ser um
pouco mais barato. Em suma: enquanto profissionais somos tão egoístas quanto
empresários e políticos – e muitos ainda os imitam em vaidade.
4.
Empregadores: Aqui reúno não apenas empresários.
Como empregador qualifico aqueles que têm o poder da demissão. Aqui a maioria é
mais do que egoísta apenas, somos também covardes e misturamos o pessoal com o
profissional (não é regra, mas ainda atinge a maioria).
5.
Cidadãos: Neste aspecto somos terríveis. Dos
outros esperamos e cobramos tudo com a máxima perfeição. Nossos atos são todos
desculpáveis. A coragem fica tão distante que mesmo querendo o máximo de perfeição
alheia só temos coragem de assumir a cobrança quando falando por um grupo,
raramente assumimos críticas e exigências pessoalmente, se evitável.
Esta sociedade brasileira, formadora do hipócrita império do
egoísmo, reclama da falha emocional de uma seleção brasileira invicta em jogos
no Brasil há 12 anos com 38 jogos dos quais venceu 29 deles e empatou apenas 9.
Os técnicos criticados possuem uma história de invejável sucesso: Parreira
(2003 a 2006) foi técnico em 10 jogos (9 vitórias) e Felipão (2013 a 2014)
viveu 12 jogos (10 vitórias) - (fonte: http://globoesporte.globo.com).
Esta mesma sociedade, quando na condição de motorista, por
exemplo, reclama dos erros que os outros cometem mas não dão o exemplo
cometendo erros semelhante e quando pegos pela autoridade de trânsito pensam
imediatamente numa forma de escapar da multa, seja pelo jeitinho brasileiro –
no papo ou pelo prestígio social que possuam, seja através da corrupção. Essa
prática é comum a pessoas de todas as classes sociais, religiões etc.
Na hora do voto, apesar de acusarem os miseráveis de nossa
pirâmide social de venderem seus votos por ignorância ou favor, votam como se
política fosse time de futebol (torcem pelos políticos de determinado segmento
mesmo sabendo-o indigno e/ou incompetente) ou pelo que podem obter no futuro ou
obtiveram no passado de favor deste político. O voto não vai para o melhor
candidato e os formadores de opinião são cooptados com salários ou prestígio pelo
político que os conhece e compra.
A educação do país vai mal (apesar de ter evoluído - há 12 anos era muito pior), mas a imensa maioria dos cidadãos
não dão sequer uma hora por mês para visitar, conhecer e participar da escola
de seus filhos. Também não se envolvem com as unidades de saúde da região que
lhe afeta nem nos debates de política de saúde.
Mas, se tem um buraco na sua
porta ou se a luz do “seu” poste queima, buscam o parlamentar que conhecem
solicitando solução.
Aliás, ser político no Brasil é tarefa para poucos. Os eleitores
que mais incomodam são os mais egoístas e vão ganhar alguma coisa através da
intervenção que cobram dos políticos. No mínimo vão ter prestígio e
reconhecimento de seus pares, sejam vizinhos, colegas de trabalho ou amigos de
pelada. Se esse político é ineficiente ou corrupto ninguém se importa, nem reclama, nem denúncia, mesmo que saiba e tenha provas.
Que a Alemanha tenha nos ensinado, com esse 7 a 1, algo mais do
que apenas a indignação com a seleção brasileira. Que a sociedade alemã chame a
nossa atenção para um país que dobrando de tamanho com a reunificação superou
todos os obstáculos e hoje, respeitada em todo mundo por sua eficiência e
solidez, oferece igualdade no tratamento e serviços a todos seus cidadãos.
Disso sim, eu tenho inveja.
No futebol o Brasil continua tendo a seleção mais invejada do
mundo. Que pena.
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