sábado, 12 de julho de 2014

O Hipócrita Império do Egoísmo

   Que a Alemanha tenha nos ensinado, com esse 7 a 1, algo mais do que apenas a indignação com a seleção brasileira. 

   O mundo possui mais de 190 países. Preferi informar neste contexto para permanecer exato por mais tempo. Existem divergências diversas entre os organismos e as datas de divulgação de suas contagens. Os curiosos podem começar sua pesquisa pela Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_Estados_soberanos) onde encontrarão referências diversas de organismos como a ISO e a ONU que mantêm alguma forma de contagem dos Estados Soberanos, Territórios e dos casos especiais como normalmente é tratado o Vaticano, entre outros aspectos de classificação.

   Para a FIFA, por exemplo, importam hoje apenas as 32 Federações classificadas para a Copa do Mundo que se realiza a cada 4 anos, mas a entidade relaciona 209 Federações de Futebol – como ela se autodenomina: é a ONU do futebol. Quase todas as Federações – exatamente 203 – participaram das eliminatórias de 816 jogos que classificaram os 31 países que participariam da Copa do Brasil que como país sede estava previamente classificado. Muitos estão pensando: ainda bem, senão...

   Dentre os 209 destacam-se o Brasil como o único pentacampeão, seguido da Itália com 4 títulos e Alemanha com 3 títulos. Abaixo vem a Argentina e o Uruguai com dois títulos. Além destes, já conseguiram vencer uma copa do mundo: França, Espanha e Inglaterra. Isso soa como música aos ouvidos dos brasileiros que querem ser os melhores em tudo.
Mas, queremos mesmo ser os melhores em tudo? Vamos olhar para a sociedade brasileira e suas conquistas.
1.     Governantes: Acredito que a imensa maioria dos brasileiros vão concordar que nossos políticos priorizam a si mesmo e a manutenção de seu poder acima de tudo, além de egoístas são extremamente vaidosos;
2.    Empresários: A maioria das empresas no Brasil – eu não disse brasileira, disse no Brasil – não querem correr riscos, isto é: só apostam no lucro certo. Sendo assim são acanhados, tradicionalistas e não ousam. É comum aos gestores no Brasil o desejo de sucesso e poder “pessoal” antes mesmo dos resultados patrimoniais – uma ilha de vaidade e do mais puro egoísmo e egocentrismo. Sei que existem muitas exceções que não me permitem dizer que essa é a regra. Mas a maioria vai concordar que no Brasil a responsabilidade social dos principais empresários é primeiro consigo mesmo, depois se voltam para as suas famílias e nesta ordem de prioridades só então vem a empresa, seus clientes, seus fornecedores, seus colaboradores, e bem lá atrás virão o resto da sociedade e por razões distantes da responsabilidade social.
3.    Profissionais: Espelham-se nos empresários. Poucos são aguerridos e a competência, em seus diversos aspectos, são menos privilegiadas do que o poder, o patrimônio e suas vantagens pessoais. Eu sei, não somos todos assim, mas entre o capital e o profissionalismo é comum priorizar-se o capital e acatar orientações que farão o produto um pouco pior só para ser um pouco mais barato. Em suma: enquanto profissionais somos tão egoístas quanto empresários e políticos – e muitos ainda os imitam em vaidade.
4.    Empregadores: Aqui reúno não apenas empresários. Como empregador qualifico aqueles que têm o poder da demissão. Aqui a maioria é mais do que egoísta apenas, somos também covardes e misturamos o pessoal com o profissional (não é regra, mas ainda atinge a maioria).
5.    Cidadãos: Neste aspecto somos terríveis. Dos outros esperamos e cobramos tudo com a máxima perfeição. Nossos atos são todos desculpáveis. A coragem fica tão distante que mesmo querendo o máximo de perfeição alheia só temos coragem de assumir a cobrança quando falando por um grupo, raramente assumimos críticas e exigências pessoalmente, se evitável.
Esta sociedade brasileira, formadora do hipócrita império do egoísmo, reclama da falha emocional de uma seleção brasileira invicta em jogos no Brasil há 12 anos com 38 jogos dos quais venceu 29 deles e empatou apenas 9. Os técnicos criticados possuem uma história de invejável sucesso: Parreira (2003 a 2006) foi técnico em 10 jogos (9 vitórias) e Felipão (2013 a 2014) viveu 12 jogos (10 vitórias) - (fonte: http://globoesporte.globo.com).

   Esta mesma sociedade, quando na condição de motorista, por exemplo, reclama dos erros que os outros cometem mas não dão o exemplo cometendo erros semelhante e quando pegos pela autoridade de trânsito pensam imediatamente numa forma de escapar da multa, seja pelo jeitinho brasileiro – no papo ou pelo prestígio social que possuam, seja através da corrupção. Essa prática é comum a pessoas de todas as classes sociais, religiões etc.

   Na hora do voto, apesar de acusarem os miseráveis de nossa pirâmide social de venderem seus votos por ignorância ou favor, votam como se política fosse time de futebol (torcem pelos políticos de determinado segmento mesmo sabendo-o indigno e/ou incompetente) ou pelo que podem obter no futuro ou obtiveram no passado de favor deste político. O voto não vai para o melhor candidato e os formadores de opinião são cooptados com salários ou prestígio pelo político que os conhece e compra.

   A educação do país vai mal (apesar de ter evoluído - há 12 anos era muito pior), mas a imensa maioria dos cidadãos não dão sequer uma hora por mês para visitar, conhecer e participar da escola de seus filhos. Também não se envolvem com as unidades de saúde da região que lhe afeta nem nos debates de política de saúde. 

   Mas, se tem um buraco na sua porta ou se a luz do “seu” poste queima, buscam o parlamentar que conhecem solicitando solução.
Aliás, ser político no Brasil é tarefa para poucos. Os eleitores que mais incomodam são os mais egoístas e vão ganhar alguma coisa através da intervenção que cobram dos políticos. No mínimo vão ter prestígio e reconhecimento de seus pares, sejam vizinhos, colegas de trabalho ou amigos de pelada. Se esse político é ineficiente ou corrupto ninguém se importa, nem reclama, nem denúncia, mesmo que saiba e tenha provas.

   Que a Alemanha tenha nos ensinado, com esse 7 a 1, algo mais do que apenas a indignação com a seleção brasileira. Que a sociedade alemã chame a nossa atenção para um país que dobrando de tamanho com a reunificação superou todos os obstáculos e hoje, respeitada em todo mundo por sua eficiência e solidez, oferece igualdade no tratamento e serviços a todos seus cidadãos. Disso sim, eu tenho inveja.


   No futebol o Brasil continua tendo a seleção mais invejada do mundo. Que pena.

================
Patrocinado:

Leia os livros eletrônicos de Borges C

  Clique e compre!