sexta-feira, 11 de maio de 2012

A Moça Caiu!

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- A moça caiu!
Quantas vezes gritei a danada da frase na infância. Era no ônibus, nas calçadas cheias. Era gritar e rir junto com a criançada. Não, eu não era louco, se fosse gritaria sozinho e levaria, na certa, um cascudo de um adulto mal humorado! Na minha infância era assim! Cascudo doía, mas não matava ninguém!
- Aiiiiiiiiii! Uma cobra! – Gritava a desprevenida menina!
Lá estava eu puxando a linha com um capim navalha na ponta nas sombras mais escuras do anoitecer. Era rir e correr – para fugir de cascudo!
E lá ia eu com nota amarrada, barbantinho cheiroso nas reuniões de adultos, estalinhos ou bombinhas pela janela perto das moças, estourando sacos, capturando sapos para soltá-los no cinema.
Naquela época eu ficava acanhado diante da beleza das meninas da escola, sentia nojo de saliva quando pensava em beijar na boca e levava muitos cascudos.
Hoje, vi minhas filhas presas pelo computador, pela TV, pelos rituais da vaidade e saindo apenas para balançar a bunda uma ou duas noites por semana. E me preocupo com a violência quando elas saem.
As bicicletas ficaram guardadas e enferrujaram para não serem roubadas quando elas estivessem passeando na rua. O carro tem filme para esconder os passageiros e seguros ao preço de uma moto.
O mundo mudou, ficou mais veloz e mais violento. Aqui, onde temos paz, morrem mais jovens do que nas guerras do outro lado do mundo. As teclas nos aproximam, nos contam os fatos e a notícias – nem sempre verdadeiras – e também aplicam golpes financeiros e atraem inocentes para armadilhas sexuais, financeiras, sequestros e até escravidão.
O homem moderno continua usando mão de obra escrava – disfarçada ou não. O saber é exigido mas não é fornecido pela mesma sociedade que o valoriza. Os homens, que deviam ser os mais sérios, mentem, se corrompem e se apropriam do que é público – em especial no mundo político e empresarial.
Não é tão notório, mas o homem público só consegue locupletar-se se do outro lado existir um empresário ganancioso e egoísta. E estes empresários possuem empresas de todos os níveis, portes, natureza e faturamento.
E quem realmente confia na polícia. Quem orienta seus filhos, como meus pais me orientaram, a procurar um policial se estiver perdido e desorientado? Minhas filhas eram aconselhadas a procurar um comércio onde existisse uma funcionária e apenas com ela se comunicar.
É isso mesmo. Estou decepcionado é comigo mesmo, com você, com os seres humanos. Na milenar cultura humana sempre prevaleceu o egoísmo patrimonial. Dominar o mundo foi sonho dourado de muitas sociedades. Segregar e escravizar outros povos eram troféus de guerra. Desrespeitar idosos e crianças e abusar das mulheres dos inimigos sempre foi considerado – na guerra – como normal, natural.
Mesmo diante de cataclismos, enquanto alguns seres se propõem voluntariamente a ajudar outros saqueiam e em meio aos voluntários estão muitos aproveitadores. Esses somos nós. Não tem como fugir desta responsabilidade.
Mas o que fazer?
Muito! Muito mesmo!
A sociedade não pode aceitar que crianças (até 21 anos) fiquem nas ruas sem arrimo, sem acesso a educação e moradia. Se os pais não dão devem ser punidos e o estado tem que dar – e o estado somos nós com nossos impostos e nossos votos.
A sociedade também não pode aceitar que viciados fiquem à margem da sociedade pois para adquirir as substâncias entorpecentes eles roubam e até matam – acabam com a garantia ao patrimônio dos cidadãos e da sociedade – acabam com a garantia do direito à vida. Eles devem encontrar apoio, abrigo e tratamento e nós que pagamos impostos e votamos temos que garantir isso.
A sociedade também não pode permitir a miséria. Enquanto houver um miserável nossa sociedade estará sofrendo de enfermidade crônica. O remédio é a distribuição de renda com ampla participação dos indivíduos da sociedade policiando, fiscalizando e denunciando o abuso no uso doas ferramentas que venham a promover um desenvolvimento sustentável dos miseráveis de nossa sociedade. Para isso devem estar atentos ao uso dos seus impostos e dos seus votos.
Então a utopia é possível e realizável se a nossa participação não for apenas verbalizada. Transformemos a utopia da participação plena na queda do egoísmo generalizado e incentivemos a participação de nossos pais, filhos, vizinhos, colegas de trabalho, parentes, conhecidos e amigos.
Participem das campanhas políticas das pessoas sérias. Se elas forem infectadas pelo vírus do poder denunciem e além de apoiar alguém melhor lute pela queda do que se corrompeu buscando ser superior a nós mesmos como a maioria dos políticos se julgam.
Foi essa a forma que encontrei de chamar a atenção de vocês, mais uma vez gritei: 
- A moça caiu!


Borges.RJ
Contador de Histórias
borges.rj@globo.com