sábado, 17 de março de 2012

Revelando Intimidades

Hoje, passado mais de meio século de vida (não importa quanto), tentei lembrar o que me levou a gostar de escrever. Não me vejo como escritor, em especial quando ao lado dos escritores que aprecio, mas gosto muito de escrever.

O que descobri não vai ser surpresa para ninguém. Foi o amor.

Conheci minha Cinderela ou Branca de Neve muito cedo. Isso mesmo! Passei de sapo a príncipe no meu primeiro beijo de amor, aos 15 anos, e até hoje sou feliz ao lado dela. Ainda não posso dizer que vivemos felizes para sempre, mas posso dizer que somos felizes e apaixonados até agora.

Mas vamos voltar ao meu retrospecto para descobrir porque passei a gostar de escrever apesar de minha mente ser mais matemática.

Da infância à puberdade me acostumara a longas viagens, aventuras diversas e a conviver com seres estranhos e todo tipo de personagem. Era (e sou) um leitor ávido!

Mas, ainda na infância conheci Solange. Conheci é força de expressão. Estudei com Solange a quem só olhava de longe sem coragem de dizer um “oi!”. Era linda: com seus cabelos loiros brilhantes ao sol, olhos claros e contratantes com a escura armação de seus óculos. Será que ela chegou a saber que eu gostava dela? Estudávamos no Pio XI, em Ramos, na antiga Guanabara, capital do país. Meu primo gostava da morena Lúcia que brincava muito comigo e nem chegava perto dele. Assim tudo isso era normal para mim.

Foi nesta ocasião que descobri que era um poeta. Tolos poemas...

Na adolescência o poeta reavivou-se impulsionado pela platônica paixão por Inês, minha vizinha! Éramos amigos e eu amava – e amo – toda a família, mas declarar minha paixão... JAMAIS! Eu poderia sobreviver sem viver aquele “amor”, mas não sobreviveria sem aquelas amizades que iluminavam meus dias – e haja poesias escondidas, de leitura proibida e ainda, como hoje, sem grandes traços artísticos, com rimas pobres e vulgares e cheias de lugares comuns.

Até então vivera o platonismo das paixões e o romantismo do estar simples e unilateralmente amando!

Um dia surgiu uma Tania em minha vida e para chamar sua atenção peguei aquelas pedrinhas comuns nos calçamentos de paralelepípedo (pó de pedra) e joguei uma a uma nela para chamar sua atenção enquanto ela passava por mim fingindo não me ver. Seu olhar me fulminou e fiquei exaltante por ter sido notado.
Foram necessários alguns meses e muitos artifícios para finalmente me sentir um príncipe trocando meu primeiro beijo de amor.

Não, não foi o meu primeiro beijo, mas foi o primeiro que transtornou meu corpo, minha mente, meu mundo. Fiquei fascinado, hipnotizado e virei servo e senhor eterno daquela mulher e seu amor (embora ela ainda não soubesse).

Nota: A página http://www.significadonome.com.br/t/tania.html explica muito bem parte de suas características pessoais e ainda fica devendo muito.

Mesmo depois de conhecê-la e reconhecê-la como minha metade tivemos muitos desencontros, reencontros, brigas, interferências em nosso relacionamento. Orgulho-me, todavia, de poder dizer que foi com ela que descobri a segunda parte do amar – só nesta relação minhas relações deixaram de ser platônicas.

Gostaria de dizer mais, seria bom dizer que ela foi minha única mulher, mas a vida não é assim. Entretanto posso garantir que nenhuma outra relação teve qualquer significância diante da realização de amá-la. Mesmo depois de muito esforço foi difícil lembrar outros nomes e situações.

Finalmente a nossa relação deu frutos e aos 24 anos, com o anúncio da breve chegada de nossa filha, sacramentamos nossa união seguindo as praxes sociais. Depois disso, saibam, nunca mais houve, para nenhum de nós, ninguém capaz de arrebatar nosso corpo ou mente. Nunca mais aconteceu qualquer briga, nem mesmo discussão que nos fizesse dormir separados e ainda hoje nos pegamos de mãos dadas na cama e cuidando um do outro com carinho especial.

Mas porque mesmo estou expondo tantas intimidades tão pessoais?
Sim! Porque passei a gostar de escrever!

Depois do poeta medíocre veio o medíocre escritor que vem buscando se aperfeiçoar e levar algum prazer a seus leitores. Aqui, por exemplo, estou garantindo que ainda existe amor, felicidade, união – se não eterna, quase! Ainda não sei.

Mas sei que a verdade não existe, ou melhor, é relativa demais. Mas a mentira existe e é disfarçada demais!

Mas sei que o homem ainda é muito animal – basta uma catástrofe ou a fragilidade de quem dele depende (órfão, por exemplo) para que surja sua pior faceta.

Mas sei que maldito o homem que confia no homem! Está na bíblia e aprendi que é verdade pela dor!

Mas sei que é muito difícil trazer você, LEITOR, até aqui, ao final. Obrigado!


Borges.RJ
Contador de Histórias
borges.rj@globo.com