sexta-feira, 11 de março de 2016

A Pólvora

   Um certo dia acordei mais velho. Eu sei que todos os dias acordamos mais velhos, mas naquele dia acordei mais chato, mais implicante, resmungão, em suma mais velho.

   Era cedo, ninguém mais acordado, e a necessidade imperceptível de implicar, latente em mim, me fez implicar com as palavras.

   A primeira vítima: pólvora. Você já implicou com palavras? Já percebeu que algumas soam fora do contexto? E percebendo isso o fato te incomodou?

   Pois é, impliquei e vou tentar ganhar adeptos para as minhas encrenquices. Repita a palavra “pólvora” e lembre: seus usos, seus efeitos, das guerras, canhões, lembre a história que ela escreveu, o barulho que ela faz quando exposta ao fogo.

   Não sei que nome eu daria àquele pó pretinho, feito por três ingredientes simples, mas não tão simples. Não conheça a fórmula e os resultados serão totalmente inesperados. 


   Você, leitor, tem alguma sugestão? Aquela pólvora produz barulho tão intenso que navios usavam um pequeno canhão (canhão de mão) só para anunciar ao porto sua chegada. Como o nome pode estar assim tão distante daquilo que designa?


   Mas vocês acham que é só a pólvora que merece a minha implicância. Que nada. Essa manhã encontrei muitas outras até que minha esposa acordou.

   Agora sim, eu tinha com quem implicar e deixei as palavras de lado. Mas você pode continuar implicando e me envie sua relação de palavras – com motivos para a implicância – que eu vou gostar.

   Sabem qual foi a primeira implicância com a esposa, foi ela me chamando de preconceituoso. Por que ser ranzinza não é a característica dos idosos, é simplesmente a minha característica, ou melhor, ela disse que eu sempre fui chato, implicante, resmungão, já na adolescência – nos conhecemos e aturamos (com muito amor) há uns 45 anos.

   Velhos, como eu denominei - disse ela concluindo - podem ser experientes, otimistas, agradáveis, simpáticos, preocupados, responsáveis, mas poucos, muito poucos são encrenqueiros e certamente foram, como eu, encrenqueiros de nascença.

   Ela acaba a discussão falando como se fosse de si para si, mas bem alto para que eu ouvisse. Vê se pode, implicar com as palavras! Isso é falta do que fazer.

   Tenho muito o que fazer, mas o que mais gosto é de brincar com as palavras. Boa pólvora para vocês. 

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