Bem
vestido, faceiro, lá vinha ele chamando a atenção de todos por onde passava.
Com seus quase dois metros de altura, olhos claros, ombros largos, músculos bem
delineados, barba e bigodes bem aparados e...
Pensando
bem, nem ele nem seu cãozinho miúdo e branquinho, preso a uma longa guia era o
que chamavam a atenção. Era simplesmente o contraste e a situação.
O quadro de
alguém tão grande passeando com um cão minúsculo, de tão exótico, já atrairia
todos os olhares. Só que o quadro se ampliara.
Na calçada
daquela rua, com tráfego intenso, uma alta escada encostada na parede deixava
praticamente o meio fio para quem desejasse se esquivar. O pintor com o seu
rolo entintado estava lá no alto concentrado exclusivamente em seu trabalho.
O cachorrinho
se embolara nos pés da escada. Percebia-se a indecisão do homem diante da
escada. A guia que sobrara não lhe permitia ultrapassar aquele trecho sem
passar por baixo da escada. O cãozinho estava agitado, próximo a movimentada
via.
A parede
branca parecia suja pelo tempo, mas isso não justificava a cor laranja quase
fluorescente que ela recebia do azafamado pintor.
O homem
vence temores. Num ato de coragem passa por baixo da escada. Isso alegra e
agita ainda mais o cãozinho que tenta pular para o seu colo. A escada
estremece. O pintor se assusta. O largo balde de tinta lhe escapa. A tinta se
espalha entre o homem, o cachorrinho branco e a calçada. O balde se encaixa na
cabeça do alinhado senhor. A escada cai. O pintor consegue se agarrar no alto da
parede e ali fica pendurado. Toda gente socorre. Um corre-corre danado.