sábado, 8 de novembro de 2014

Aniversário

Completo hoje 58 anos numa sucessão de boas-vindas e despedidas. Não que a vida se resuma a isso, mas talvez seja isso o que mais importa.

Recebido ao nascer, ao longo dos anos você recebe aqueles que vão entrando em sua vida sem que perceba. Como no princípio nada entendemos de morte e só conhecemos, normalmente, aquele ser que chamaremos de mamãe, segue-se um longo período de recepções e descobertas.

Certa vez percebi que geralmente sorrimos quando olhamos para uma criança no colo e imaginei que nosso sorriso talvez seja uma forma de esconder daquela criança o que a nossa sociedade reserva para ela. Percebi também que jamais comentamos perto dos nenéns seus pontos negativos e, se feia ou chata, escolhemos o que ela tenha de melhor, seja o sorriso, os cabelos ou os olhos para enaltecer – descobri que somos, todos, socialmente hipócritas.

As primeiras perdas logo começam a acontecer quando a sociedade nos impõe seus limites e não nos deixam ficar com o brinquedo do coleguinha. Mais tarde teremos que aceitar que as pessoas que gostamos podem não gostar da gente e preferir brincar, beijar ou namorar outra pessoa. Vamos aprender também a trocar ou ser trocado em nossas primeiras experiências sentimentais.

Assim, depois de boa parte do tempo dando boas-vindas, logo começam as despedidas. Aderem, ao nosso mundo, novos colegas e outros se vão. Uns deixam marcas e lembranças, outros nem isso.

Certamente teremos sensações marcantes como o nascer dos filhos e a morte dos pais e nos conformamos mais quando ocorrem nessa ordem.
Vamos vivendo de paixão em paixão, algumas serão eternas. Para muitos apaixonados a paixão mais eterna será pelo time que torcem e vejo aqui como o homem pode ser bom. Sim, porque mesmo se seu time passa vinte anos sem ganhar um campeonato seguimos sofrendo, torcendo, mas eternamente apaixonado por ele – apesar de sermos seu mais contundente crítico seremos sempre seu eterno defensor nas contendas com outros torcedores. O que nem sempre ocorre com o casamento – de parceiro podemos trocar. Nuances da humanidade.

Na passagem da vida vamos acumulando recordações e lembranças e, dizem, buscando a felicidade o que é, ao meu ver, uma incoerência. Esquecemos tão rápido as alegrias mas demoramos muito a esquecer magoas, mais ainda a perdoar.

As boas-vindas te seguem ao longo da vida, mas com o tempo começam as mais marcantes despedidas – é a proximidade da morte. E nela nem queremos pensar. Os cientistas, nem sei porque, tentam explicar. Quem disse que queremos falar sobre isso?

Hoje olho o longo caminho de meus passos, a ilha do presente e o mar do futuro nas suas mais diversas dimensões:

- Como indivíduo é muito difícil dizer-se realmente realizado, a vida nos impõe escolhas e muitas realizações sonhadas ficam pelo caminho. No meu caso nenhum arrependimento marcante.

- Enquanto membro de uma família, que aceito como célula máster da sociedade, felizmente vejo a minha e a dos que me cercam mais próspera e com mais qualidade de vida e concluo, com base exclusiva nas minhas experiências que evoluímos.

- Enquanto cidadão, olho para o mundo que conheci e para o que construí – sim, todos nós, mesmo sem perceber, influenciamos e moldamos nossa sociedade – e, infelizmente, não sei se deixo um mundo melhor para minha descendência.

No balanço social reside minha maior frustração. Vejo melhores meu bairro, minha cidade, meu estado e meu país – como evoluímos nestes quarenta e cinco anos (até os treze – 1969 - eu ainda estava aprendendo a ver)! Mas como não percebi que estava ajudando a criar uma sociedade tão injusta e egoísta?

Como motoristas mostramos bem nosso comportamento, mas como cidadãos somos ainda piores.

Estamos no século XXI e a vida alheia ainda é um simples detalhe onde só o que importa é a situação do nosso pequeno grupo familiar. Não nos importa, de fato, a miséria. Não nos importa, de fato, as oportunidades alheias (ou a falta delas). Não nos importa as guerras distantes e que não me afetam, a qualidade e oportunidade dos filhos dos outros. Não existe, em nosso tempo, um tempo que não seja usado egoisticamente na busca de patrimônio (ou sobrevivência), realização ou mesmo lazer pessoal.

Meu capital só pode servir as minhas causas. Nosso comportamento social continua seguindo a máxima: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Ao completar felizes 58 anos, ao lado de minha lúcida mãe de 83 anos, compartilhando a vida com a esposa que conheci aos 15 anos e que ainda me surpreende e completa, bajulado e paparicado por minhas duas filhas, a mais nova com 31 anos e cercado por amigos bem próximos mesmo se distantes (alguns em outro plano, certamente ainda torcendo por mim), realizado até agora mas com muitos planos e projetos quero pedir a você que me lê um só presente de aniversário:


Busque a sua felicidade sem esquecer os mais próximos e tente promover também a felicidade deles. O mais próximo não está em outro país nem em outro estado. É aquele que cerca o seu cotidiano ou em sua casa, ou na sua rua, no seu local de trabalho ou por onde você passa sempre. Pense que se cada um de nós perdermos poucos minutos diários em favor do outro, investindo nos mais próximos, e isso se tornar uma corrente pelo menos ao seu redor as coisas vão ser realmente mais agradáveis.

Obrigado!

================
Patrocinado:

Leia os livros eletrônicos de Borges - Preço promocional R$ 1,99

 Clique e Compre! As Grutas de Spar

 Clique e Compre! (Texto Adulto)