segunda-feira, 29 de agosto de 2011

BEIJO ROUBADO



Marina estava indócil. Detestava esperar, mas levar bolo de namorado era motivo de guerra! Vinte minutos e nada.
Sua mente divagava nos mais diversos porquês. Primeiro fora assomada por um certo desespero e só pensava em acidentes, bombeiros, hospitais... O ciúme acabou falando mais alto e em segundos ela conseguiu fantasiar um sem número de mulheres cada vez mais lindas no lugar dela.
Riu de si mesma ao ver que já estava esperando por mais de 30 minutos e atribuía a Renato uma capacidade de conquista inusitada. Ele tinha sorte dela estar apaixonada e ter conquistado ele. Renato é do tipo que não conquista ninguém.
Tem 1,60 m – muito baixo para um homem. Usa óculos, a voz nem chega a ser grossa. Nem é peludo, nem sem pelos e esse meio termo faz dele uma figura engraçada quando de short na praia. Mesmo porque seus músculos não sobressaem aos seus ossos – o cara é baixo e magrinho e ainda está ficando calvo aos 23 anos. Sua cabeleira não chega aos 30.
É claro que não foi por isso “tudo” que ela se apaixonou. Romântico acanhado. Homem à moda antiga. Cavaleiro nos mínimos detalhes. Repara as nunces das pequenas mudanças de Marina. Sempre pronto e disponível. Ela estava ali há 45 minutos porque sem qualquer reclamação ele esperava ela se arrumar horas a fio e ela sempre via um sincero encantamento quando ele avaliava o resultado.
Mas estava passando do aceitável e racional. Ela tinha, mesmo sem querer e preocupada, tinha que ir embora. Não podia se rebaixar tanto.
Ela desiste, desce a rua e, para sua surpresa lá está Renato, um buquê de flores do campo na mão. Enquanto ela se aproximava ele olhou o relógio umas três vezes. Estava de terno. Ela conseguiu ver em sua mão um anel com um diamante solitário enorme e brilhante numa caixa aveludada vermelha rubra.
Lembrou, quando já estava a um passo dele, do encontro marcado e ela é quem estava na esquina errada. Coitado! Mas ela não podia perder a pose, assumir um atraso que não teve e nem assumir a sua burrice, Já chegou com pedras na mão.
Ria consigo mesmo: “A melhor defesa é o ataque!”
- Seu canalha! Você está esperando por quem aqui todo bonitinho e com flores na mão? 
- Marca comigo, me deixa plantada lá em cima só para ter certeza que eu não estaria aqui e que não o pegaria me traído. 
- Na certa está pensando que eu sou trouxa ou idiota!
- Quem é ela? Quem é ela – pode ir logo dizendo!
Ele deu seu melhor sorriso amarelo. Sempre foi um simpático brincalhão, mas foi brincar na hora errada.
- Você não conhece não!
- Acho que nunca conheci ninguém mais bela, carinhosa e...
- Faltam-me palavras para falar dela para você. Se você esperar alguns poucos segundos verá ela chegando, com um sorriso de desejo, com lábios gulosos e uma desculpa esfarrapada para seu atraso, tipo: errei o lugar. No olhar um pedido de desculpa irrecusável.
- Talvez, na verdade, você a conheça até demais, deve conhecê-la melhor do que eu mesmo, que sou apaixonado por ela. O nome dela é...
O tapa estalou alto e chamou muita atenção de quem passava. Suas lágrimas, apesar de todo seu esforço, rolavam pela face e ela não conseguiu conter o pranto.
Ele tentou beijá-la. Ela relutou, se esquivou, mas ele mais forte venceu e ela se viu cedendo àquele beijo que ela sabia de despedida. Um último beijo roubado.
Acabado o beijo ele olhou profundamente em seus olhos ia falar alguma coisa e outro tapa lhe interrompeu e ela fugiu e conseguiu entrar imediatamente no primeiro taxi que passava. Gaguejava ao dar o destino ao motorista – ainda em pranto.
Viu a mãe na porta de casa. Pagou o taxi e quando saiu do carro ouviu um coro de Parabéns!
Lá estavam seus pais, seus irmãos, tios e primos, os pais dele e toda sua família. Todos já comemoravam a festa de noivado.
Já fazia uma hora que ela estava esperando por ele sentada no meio fio na frente de sua casa...
Mas ele até agora não chegou!

Borges C.
(Toca de Lobo)
Contador de Histórias

borges.rj@outlook.com

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