sábado, 14 de janeiro de 2012

Amando; como contar o tempo?



  Implacável a marcha do tempo. Nada, nem ninguém, dela escapa. O tempo pode parecer diferente se compararmos o tempo de vida de um beija-flor e uma tartaruga, mas eles vivem e realizam em ritmos diferentes. Será que o ritmo de uso do tempo o altera?

   Acredite: nada – ou quase nada – altera os efeitos do tempo. Temos todos, sejam animais, vegetais, minerais e tudo mais, um ciclo temporal. Tudo tem origem e fim. Os cientistas costumam dizer que: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” – como ensinou Antoine Lavoisier, em Paris, nos anos finais do século XVIII.

   Todavia quem experimenta o verdadeiro amor conhece diversas variações temporais. Seja pelo amor fantasiar, ser eterno, ou por qualquer outra característica que possua, que nem mesmo o melhor dos poetas logrou explicar.

   O tempo para quem ama é diferente.

   Estou falando daquele amor que é capaz de trazer felicidade ao amante que vê o objeto de seu amor ser feliz apesar de com outra pessoa que não ele. Daquele amor que não se pode traduzir em ciúme, posse, egoísmo, amor próprio, escravidão ou subserviência.

   Ele não existe? 

   Não é porque você ainda não o experimentou que ele não existe. A maioria das mães o conhece de perto diante dos primeiros sinais de vida de seus filhos ainda dentro de seu útero. Ela há de se realizar com a felicidade dos filhos mesmo que isso lhes cause dores maiores que a do parto, seja de saudades ou de ingratidão.

   O amor que estou falando é aquele que faz parar o tempo quando esbarramos pela primeira vez com o ser amado ou quando, depois de longo tempo o reencontramos. Que faz voar os minutos quando estamos ao lado de quem se ama sabendo que temos que nos separar. Estes mesmos minutos que se arrastam durante todo o dia até a chegada do momento de novo encontro.

   Estou falando do tempo vivido pelos amantes. Aquele que não satisfaz e que mantém em um só instante toda história vivida ao longo de muitos e muitos anos. Na realidade acredito que só o amor consegue dar aos homens a noção de eternidade que se confunde com a inexistência do tempo. Os amantes se vêm como eram no primeiro dia e amam um ao outro apesar de qualquer desgaste que o tempo tenha provocado.

   O olhar de quem ama enxerga a essência do ser amado e não sua aparência atual. Vê a energia dinâmica que os une independente de sexo ou quaisquer outros prazeres. O prazer é estar com. O prazer é ser um sendo duas individualidades totalmente distintas.

   Quem realmente ama ouve o que não foi dito, conhece o sentimento do outro, sofre suas dores e mesmo com dores regozija-se da realização e felicidade de seu amado.

   Coitado do tempo que a tudo domina. Esqueceu que para toda regra há exceção e a exceção do inexorável tempo é o amor que não se consome, não se desgasta e resiste às transformações que o tempo imponha aos amados superando mesmo à morte. O amor é a eternidade que o ser humano pode conhecer e entender.


Borges.RJ
Contador de Histórias
borges.rj@globo.com