terça-feira, 12 de junho de 2012

Preferia não ter visto!

Fiz segredo! Quem não faria segredo em uma situação tão embaraçadora?
Meu irmão casara com uma paulista erradicada no Rio de Janeiro. Não teve papéis nem cerimônias, mas moravam juntos e por isso estavam casados.
Foi um susto ver minha cunhada abraçada e sorridente entrando num restaurante perto do aeroporto com outro homem. Fiquei num impasse: meu irmão deveria ou não ser informado daquele encontro alegre e furtivo?
Se em mim doía ver aquele casal tão feliz junto. Doía ainda saber que a felicidade deles seria o desespero e uma dor maior que a minha para meu apaixonado irmão.
A família ficaria estarrecida... Conto? Não conto? Passei a tarde assim aflito!
A aflição aumentou ainda mais quando minha cunhada convidou a família para jantar na casa do casal. Como encará-la e calar? Como encarar meu irmão e não contar?
Ela era a infiel e eu estava entre a covardia e sei lá que sentimento.
Se eu contasse...
Se eu não contasse...
O que fazer? Achei melhor não ir ao jantar.
O expediente acabou e indócil lá fui eu a um barzinho num conflito interno inimaginável naquela manhã. Como eu estava feliz naquela manhã! Era sexta-feira e o fim de semana prometia ser divertido. Iríamos passear em família em Itacuruçá, passear de saveiro, comer peixe fresco com camarão, tantos planos e aquela ingrata se deixou pegar com seu amante. E eu era testemunha de sua intensa felicidade...
Resolvi ir ao jantar!
Cheguei taciturno, fiquei calado em meu canto, um olhar de ódio que eu desviava de minha cunhada para que ela não percebesse minhas decepções e meu conflito injurioso.
Todos já haviam chegado e ela alongava aquele encontro sem servir o jantar...
A campainha toca e ela entrega uma champanhe na mão de meu irmão e corre para abrir a porta e para minha surpresa, ali, diante de todos, se joga nos braços de seu amante!
Hein! Que mundo é esse! Ela teve a desfaçatez de trazer o amante para um jantar de família e ninguém sequer demonstrou espanto?
Em meio aquele mal-estar inexplicável com palavras já estou de pé e sinto meu corpo cair na poltrona quando com dificuldade decifro as palavras de minha cunhada:
- Este é meu irmão, chegou hoje do exterior, almoçamos juntos e acomodei ele num hotel por insistência dele mas não podia deixa-lo fugir de uma apresentação formal a minha nova família.
Meu irmão estava abrindo o champanhe e olhava estupefato para mim que chorava como criança.
Desta vez chorei um novo choro: não era alegria, felicidade, desespero, dor ou saudade – era só um tremendo alívio acompanhado pela culpa de um ditador pelo meu julgamento sumário e precoce, e sem direito à defesa!
Só não consegui sentir-me pior do que os agentes da lenta e elitizada justiça!


Borges.RJ
Contador de Histórias
borges.rj@globo.com