quinta-feira, 5 de julho de 2012

Ave Maria! Que Viagem Insólita!

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(Insólita = Anormal; incomum; extraordinária – DICIONÁRIO AURÉLIO)

Foi tudo tão estranho e começou com o inusitado convite de minha esposa para vermos televisão, no quarto, no fim de uma tarde, em pleno dia da semana. Estávamos conversando e na programação que ele escolhera começou uma canção gospel e ela acompanhou o canto com uma voz deliciosa que foi envolvendo minha mente e relaxando meu corpo.
Me dei conta que eram seis horas da tarde, a hora da Ave Maria, de tantas outras orações e do terço e esse era o programa que iríamos assistir. Quase resisti, mas resolvi deixar-me levar naquela sedutora sensação de bem-estar e leveza.
Impossível precisar se estava navegando, flutuando ou voando mas sentia meu corpo no espaço e comecei a presenciar um lindo espetáculo de luzes coloridas envoltas em nuvens, digamos, resplandecentes.
O quadro é inenarrável, inexplicável, intraduzível, mas vou esforçar-me, abusando dos figurativos, para expressar o melhor possível os vislumbres e sensações arrebatadoras.
Réveillon na praia de Copacabana, meia-noite, tente rever esse quadro! Agora multiplique por mil as luzes coloridas dos fogos e empreste realces, reflexos e um artístico cintilar com todos seus brilhos faiscantes tremeluzindo nas nuvens de fumaça. Tente perceber o perfume desta nuvem. Não, não é o odor da pólvora. É de uma fragrância arrebatadora e suave que nos faz sorrir.
Eu, do alto, entre horizontes a toda volta, percebo este pulsante espetáculo provocado por milhões de vozes defasadas no tempo e harmonizadas no infinito, rogando a Ave-Maria! Sustentando o espetáculo e formando um coral de vozes sublimes complementando uma orquestra invisível de milhares instrumentos distintos e conjugados surgem os efeitos do terço que prolonga as ondas repletas de amor misericordioso e pleno que se agitam nos fusos horários onde tantas outras milhões de vozes simplesmente erguem ao espaço uma única e simples exaltação à Maria, mãe de Jesus que surge alto, muito alto, enorme e resplandecente agradecendo a homenagem à mulher que lhe concebeu.
A simples frase “Ave Maria!” ecoando na atmosfera terrestre aumenta a energia das luzes e seus efeitos se espalham certamente por todo o globo na medida que o sol vai se pondo em cada um dos recantos do planeta e os fiéis se renovando nesta eterna homenagem na curva espaço-tempo forjada por nosso planeta.
Mas só quando minha face se volta e consegue contemplar essa mulher homenageada ao longo do tempo e que percebo porque apesar da humanidade, com todas as suas falhas, defeitos e erros conseguimos nos sustentar em meio a fragilidade da vida neste íngreme universo. A chance de existirmos, lembrando de todas as forças da natureza e de todos os cataclismos universais, são menos que mínimas conforme todos os cientistas vivem a confirmar. Mas eles, em sua grande maioria, nunca tiveram a oportunidade mais que maravilhosa que experimentei de ouvir, ver e sentir os efeitos dos terços e das Ave-Marias recitadas pelos humanos entre tantas outras preces e orações.
Me pergunto, agora que vi que o paraíso existe e é aqui, na face da Terra: O que seria de nós se assim não fosse?
Ave Maria!


Borges.RJ
Contador de Histórias
borges.rj@globo.com