Ele é um gato! Sei que é o
meu príncipe, ou melhor, o homem da minha vida!
Quando mais uma vez cruzamos nossos
olhares a reação foi imediata: meu coração quase parou e em seguida ficou aos
pulos dentro de mim, minhas mãos ficaram suadas. Ele estava olhando diretamente
para mim, direta e profundamente. Abria um lindo sorriso que me arrepiou
inteira, mas eu não consegui sorrir – estava inerte, petrificada e agora
trêmula. Ele vinha em minha direção.
Maldade do destino. No
meio de uma linda festa, minha música predileta começa a tocar e só ele existe,
estamos sós, nós dois, brincadeiras de minha mente que ainda fez com que ele se
aproximasse a passos largos, mas que eu o visse como em câmera lenta.
Agora meu corpo inteiro se
revoluciona: prazer, medo, angustia, excitação, ansiedade...
Olho em minha volta,
nenhum apoio, nenhuma colega a quem, pelo menos, dar a mão para não perder o equilíbrio.
Agora é tarde. Ele está
frente a frente comigo como ontem na escola – quando fugi desesperada sem saber
o que fazer.
Que loucura. Que gato! Que
homem! Quero ele! Ele tem que ser meu! Acho que estou apaixonada! Acho que é
amor! Amor pleno e definitivo!
Ele fala comigo, chama meu
nome e eu nada ouço, adivinho suas palavras, ele fala que me ama – Socorro! Ele
me ama! – e pega minhas mãos suadas. Quero escapar, olho em volta. Ele já está prevenido
e bem mais próximo. Segura meu rosto, seu rosto se aproxima do meu. Lábios
lindos! Que sede de beijos! Que inércia! Essa agonia subindo pelo meu estômago!
Esta mistura de colar e frio!
A mão dele acariciando meu
rosto... Os lábios dele tocando o meu entre pequenos beijos... Meus lábios
trêmulos se abrindo ao seu toque... Aquela deliciosa boca me envolve inteira...
Sua língua encontra a minha ansiosa... Estou tonta... Vou cair... Que beijo
delicioso... Preciso de apoio... Meus braços se apoiam no corpo dele... Preciso
envolve-lo, retê-lo, abraçá-lo, beijá-lo.
O tempo não existe. O
prazer – e o nervosismo por aquele prazer nunca experimentado – tomam conta de
mim. Sinto uma urgência tomando conta de minha consciência. Esta urgência me
inquieta. O que fazer? Desespero... O beijo está acabando... Ele está se
afastando... Não... Agora não... Não sei o que fazer... Urgência e desespero me
dominam... Volta para os meus lábios, não se afaste!
Ele se afasta com aquele
delicioso sorriso e me corpo, meu eu, minha mente, reagem a minha revelia e só
então falo alguma coisa, falo não – grito! E grito bem alto para todo mundo da
festa ouvir enquanto minhas mãos abandonam aquele corpo tão meu, tão desejado,
tão amado.
- Babaca!
Grito e saio correndo da
festa diretamente para minha casa, para minha cama – onde desabo num pranto
forte ocultado pelo travesseiro, companheiro de muitos beijos.
Borges.RJ
Contador de Histórias
borges.rj@globo.com
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