Completo hoje 58 anos numa
sucessão de boas-vindas e despedidas. Não que a vida se resuma a isso, mas
talvez seja isso o que mais importa.
Recebido ao nascer, ao longo dos
anos você recebe aqueles que vão entrando em sua vida sem que perceba. Como no
princípio nada entendemos de morte e só conhecemos, normalmente, aquele ser que
chamaremos de mamãe, segue-se um longo período de recepções e descobertas.
Certa vez percebi que geralmente
sorrimos quando olhamos para uma criança no colo e imaginei que nosso sorriso talvez
seja uma forma de esconder daquela criança o que a nossa sociedade reserva para
ela. Percebi também que jamais comentamos perto dos nenéns seus pontos
negativos e, se feia ou chata, escolhemos o que ela tenha de melhor, seja o
sorriso, os cabelos ou os olhos para enaltecer – descobri que somos, todos, socialmente
hipócritas.
As primeiras perdas logo começam
a acontecer quando a sociedade nos impõe seus limites e não nos deixam ficar
com o brinquedo do coleguinha. Mais tarde teremos que aceitar que as pessoas
que gostamos podem não gostar da gente e preferir brincar, beijar ou namorar
outra pessoa. Vamos aprender também a trocar ou ser trocado em nossas primeiras
experiências sentimentais.
Assim, depois de boa parte do
tempo dando boas-vindas, logo começam as despedidas. Aderem, ao nosso mundo,
novos colegas e outros se vão. Uns deixam marcas e lembranças, outros nem isso.
Certamente teremos sensações
marcantes como o nascer dos filhos e a morte dos pais e nos conformamos mais
quando ocorrem nessa ordem.
Vamos vivendo de paixão em
paixão, algumas serão eternas. Para muitos apaixonados a paixão mais eterna
será pelo time que torcem e vejo aqui como o homem pode ser bom. Sim, porque
mesmo se seu time passa vinte anos sem ganhar um campeonato seguimos sofrendo,
torcendo, mas eternamente apaixonado por ele – apesar de sermos seu mais contundente
crítico seremos sempre seu eterno defensor nas contendas com outros torcedores.
O que nem sempre ocorre com o casamento – de parceiro podemos trocar. Nuances
da humanidade.
Na passagem da vida vamos
acumulando recordações e lembranças e, dizem, buscando a felicidade o que é, ao
meu ver, uma incoerência. Esquecemos tão rápido as alegrias mas demoramos muito
a esquecer magoas, mais ainda a perdoar.
As boas-vindas te seguem ao longo
da vida, mas com o tempo começam as mais marcantes despedidas – é a proximidade
da morte. E nela nem queremos pensar. Os cientistas, nem sei porque, tentam
explicar. Quem disse que queremos falar sobre isso?
Hoje olho o longo caminho de meus
passos, a ilha do presente e o mar do futuro nas suas mais diversas dimensões:
- Como indivíduo é muito difícil
dizer-se realmente realizado, a vida nos impõe escolhas e muitas realizações
sonhadas ficam pelo caminho. No meu caso nenhum arrependimento marcante.
- Enquanto membro de uma família,
que aceito como célula máster da sociedade, felizmente vejo a minha e a dos que
me cercam mais próspera e com mais qualidade de vida e concluo, com base
exclusiva nas minhas experiências que evoluímos.
- Enquanto cidadão, olho para o
mundo que conheci e para o que construí – sim, todos nós, mesmo sem perceber,
influenciamos e moldamos nossa sociedade – e, infelizmente, não sei se deixo um
mundo melhor para minha descendência.
No balanço social reside minha
maior frustração. Vejo melhores meu bairro, minha cidade, meu estado e meu país –
como evoluímos nestes quarenta e cinco anos (até os treze – 1969 - eu ainda
estava aprendendo a ver)! Mas como não percebi que estava ajudando a criar uma
sociedade tão injusta e egoísta?
Como motoristas mostramos bem
nosso comportamento, mas como cidadãos somos ainda piores.
Estamos no século
XXI e a vida alheia ainda é um simples detalhe onde só o que importa é a
situação do nosso pequeno grupo familiar. Não nos importa, de fato, a miséria.
Não nos importa, de fato, as oportunidades alheias (ou a falta delas). Não nos
importa as guerras distantes e que não me afetam, a qualidade e oportunidade
dos filhos dos outros. Não existe, em nosso tempo, um tempo que não seja usado
egoisticamente na busca de patrimônio (ou sobrevivência), realização ou mesmo
lazer pessoal.
Meu capital só pode servir as
minhas causas. Nosso comportamento social continua seguindo a máxima: “Farinha
pouca, meu pirão primeiro”.
Ao completar felizes 58 anos, ao
lado de minha lúcida mãe de 83 anos, compartilhando a vida com a esposa que
conheci aos 15 anos e que ainda me surpreende e completa, bajulado e paparicado
por minhas duas filhas, a mais nova com 31 anos e cercado por amigos bem
próximos mesmo se distantes (alguns em outro plano, certamente ainda torcendo
por mim), realizado até agora mas com muitos planos e projetos quero pedir a
você que me lê um só presente de aniversário:
Busque a sua felicidade sem
esquecer os mais próximos e tente promover também a felicidade deles. O mais
próximo não está em outro país nem em outro estado. É aquele que cerca o seu
cotidiano ou em sua casa, ou na sua rua, no seu local de trabalho ou por onde você
passa sempre. Pense que se cada um de nós perdermos poucos minutos diários em
favor do outro, investindo nos mais próximos, e isso se tornar uma corrente
pelo menos ao seu redor as coisas vão ser realmente mais agradáveis.
Obrigado!
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