Nós
sempre tentamos fazer algumas coisas sem compromisso: sair ou ficar com alguém,
participar de uma atividade em equipe, dar opinião sem maior interesse pelo
tema, jogar qualquer tipo de jogo em equipe, emitir opiniões sobre temas
polêmicos, escrever um conto ou poema.
Não
que sejamos irresponsáveis ou por não desejarmos qualquer compromisso,
normalmente é justamente o oposto: uma vida atribulada de responsabilidades e
decisões diversas nos impele a ver o que não for trabalho, no conceito concreto
da palavra, com alguma liberdade. Já temos responsabilidades demais.
Mas
conseguir não ter compromisso é para quem tem a irresponsabilidade como
característica pessoal, como parte de seu caráter. Alguns são até bem sucedidos,
pois que agem com tal simplicidade que escapam ao stress comum nos que militam
em sua área e isso acaba por ser vantajoso e repercute nos resultados.
Voltando
ao tema da ocasional irresponsabilidade ao fazermos atividades simples do
cotidiano o que se percebe é que nos propomos não nos deixar envolver e
acabamos nos comprometendo com o grupo, parceiro e demais participantes das
atividades que abraçamos.
Assim
se explica a necessidade que alguns apresentam de ter que abandonar suas
rotinas de lazer – não sabem fazer mal feito e não possuem tempo para se
dedicar na medida exigível em sua ótica.
Todavia,
o que mais acontece com estes jovens responsáveis é acabarem casados por conta
de uma gravidez indesejável, acabarem magoados por amar quem só está curtindo o
momento, sentirem-se traídos numa relação onde não se exigia fidelidade.
Um
conto, um poema, permitem ao autor não divulga-lo e a porcaria fica existindo
apenas para ele mesmo. Uma equipe acaba expurgando os participantes que não
oferecem o retorno desejado. Os jogos acabam porque a derrota provocada pelo
descompromisso também desgasta qualquer atrativo que a atividade tenha – jogar significa
ter pelo menos alguma chance de ganhar.
Só
não acreditem na hipótese de estar, ficar ou sair sem compromissos. O amor é um
desconhecido que desafia filósofos, cientistas e poetas. O amor desafia a razão
e a lógica. Nosso coração é terra de ninguém buscando eternamente um
conquistador bárbaro que o tome para si.
A
história do príncipe encantado é falsa. As mulheres em especial falam muito de
príncipes, mas muitos homens também sonham, sem confessar, encontrar uma
princesa. Mas ambos querem mesmo é ser arrebatados por uma paixão que os domine
totalmente. Queremos virar tolos, rir como crianças, correr, brincar e confiar
cegamente. Queremos não resistir aos apelos amados e sentir o coração
descompassar por causa deles.
Assim,
creiam, não podemos fugir da responsabilidade sobre o que não se pode
controlar. Em se tratando de relacionamentos afetivos estejam prontos para
sofrer as consequências de “ficar” com alguém. É lindo amar. É lindo ser amado.
Mas só quando isso é verdadeiramente recíproco.
Nunca
esqueça que na juventude (e ela hoje se alonga cada vez mais) ser amado sem
amar pode ser constrangedor, incomodativo, chato mesmo! Mas nada dói mais do
que amar sem ser amado! E qualquer relação pode oferecer desastrosas e
definitivas consequências.
Borges.RJ
Contador de Histórias
borges.rj@globo.com