Estava ansioso, agitado e
apático numa espera atordoante. O tempo se arrastava e os minutos pareciam
horas e me angustiavam. A notícia precedeu os fatos me dando alento e alívio.
Ainda assim eu precisava estar ao lado da companheira da minha vida para ter
paz de espírito.
Finalmente estávamos
juntos. Nada mais me abalaria, eu acreditava nisso. Como somos diferentes das
mulheres!
Ela, comigo ao seu lado,
esperava calma a visitante que ela parecia já conhecer profundamente. Enquanto
eu sentia crescer novamente todas aquelas indesejáveis sensações que entraram
em ebulição com a visão daquela dádiva chegando por mãos estranhas embrulhada
num pacote de tecido que mais parecia um casulo.
A esposa
ao meu lado, depauperada, ainda sorria feliz e divertida com as minhas reações
e expressões. O pacote me foi entregue e eu explodi dentro de mim mesmo.
Como descrever emoções
para as quais nem os poetas inventaram palavras. Quando falamos que estamos com
saudades as pessoas ao nosso redor entendem o que estamos sentindo. Mas não
existe qualquer termo que possa resumir a explosão de sentimentos miscigenados dentro
de um corpo, apesar de grande, muito pequeno para comportar tantas sensações e
manifestações racionais e emotivas.
Nós, homens, nos tornamos
pais quando pela primeira vez temos contato com nosso recém-nascido, mesmo acompanhando
diuturnamente a evolução daquele ser no ventre materno e curtindo passo a passo
sua evolução. Pelo menos comigo foi assim. Enquanto minha esposa recebia, de
mim, em seus braços aquele minúsculo ser, uma cópia de nós mesmo, com se ela
sempre estivesse consigo, eu ainda estava deixando fluir toda carga emocional e
recebendo racionalmente o peso da responsabilidade daquele novo ser que sem
qualquer manual, sem botão de liga/desliga me fora entregue.
Foi assim, no mesmo misto
de intenso prazer indescritível e sentindo o peso da grande responsabilidade
que Deus me confiava, que dois anos depois, novamente em agosto eu recebia um
novo presente num invólucro de tecido que mais parecia um casulo: “Estava
ansioso, agitado e apático...”
Hoje, lá se vão alguns anos
e olhando o passado ainda me questiono se fui um depositário fiel dos esplendorosos
patrimônios a mim confiados pela misericórdia divina, que nos permite a
perpetuação eterna pelo advento da procriação.
Tenho orgulho de minhas
filhas, dos belos seres humanos que elas se tornaram, das excelentes e
dedicadas profissionais e das pessoas íntegras que valorizam a família, a
igualdade entre as pessoas e seus pais, mas ainda me questiono quanto deixei de
dar, de fazer, de apoiar, de estar junto, de ser pai nesta trajetória de
aprendizagem que, na vida, jamais termina.
De qualquer forma vou
comemorar sempre o mês de agosto que me deu uma leonina e uma virginiana para
completar, engradecer e iluminar minha vida com felicidade e muito, muito amor.
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